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ANGOLA

Por Marilda Aparecida Corrêa[i]

O país que mais forneceu africanos para o Brasil dividiu, com ele, o domínio português e, portanto, também é lusófono, embora tenha diversos outros idiomas, próprios aos diversos grupos de sua população; entre eles o ovimbundo, kimbundo, bakongo.

Localizado no sudoeste africano, possui área de 1.246.700 km2 e clima tropical.

O nome do pais é reminiscência da própria história: Angola é derivada de Ngola, nome dado ao rei de uma dinastia de povos designados, posteriormente, por ambundus, que vieram até o rio Kwanza, onde fundaram poderoso reino; outra hipótese é que o nome provenha do kimbundu Ngola, vassalo do Rei do Congo que, ao conquistar a região, erigiu reino próprio, batizando-o com seu nome.

Contatada em 1482 pelo português Diogo Cão, Angola recebeu os primeiros colonos brancos no final do século XVII: fixaram-se no litoral e fundaram os núcleos de Luanda e Benguela; ainda naquele século e no seguinte, o território foi progressivamente ampliado para o interior, acompanhando a busca de escravos para serem vendidos no litoral.

É neste contexto que surge a lendária figura da Rainha Nzinga: já aos quarenta anos de idade, apresenta-se como embaixadora do Ngola junto aos colonos portugueses, para negociar a soberania local quanto às restrições que a metrópole ibérica tentava impor sobre a terra africana.

Expressando-se em perfeito português, ela consegue a negociação, que incluía, entre outras concessões, a conversão dos africanos à fé católica: Nzinga cede e é batizada com o nome cristão de Ana de Sousa.

Porém, os portugueses não cumprem sua parte no acordo, desencadeando longa guerra entre as partes: durante 40 anos, Nzinga, comandando os imbangala - também denominados ou confundidos com os jagas – promove a resistência, especialmente na atual província de Kassange; desaparece por morte natural aos oitenta anos sem ser vencida; ao final da vida retoma, mesmo que de forma torta, a fé católica, confessando-se ao Pe. Gavazzi, que considerava seu amigo.

Sua sucessão é exercida, primeiro, por um de seus maridos; depois, por sua única irmã sobrevivente ao domínio português, que não resiste à invasão colonial que, a seguir, se segue e se expande paulatinamente.

Por volta da metade do século XIX, a corrida por matérias-primas que a Revolução Industrial originou na Europa, fez com que as várias potências colonialistas disputassem, diplomática e militarmente, os territórios conquistados até o momento; disto resultou a Conferência de Berlim que, em 1885, encerrou a chamada Partilha da África, reconhecendo o domínio de Portugal sobre Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné Bissau.

Em 1935 o território angolano foi declarado parte integrante de Portugal, medida que trouxe alterações favoráveis à população branca, agora com acesso à cidadania portuguesa; contudo, os africanos negros continuaram sob o regime de “indigenato”, programa que previa a gradativa elevação social do nativo, permitindo ascender de membro de sociedade considerada primitiva ao status de cidadão assimilado (para os portugueses, sinônimo de civilizado), embora de segunda classe.

Para tanto, este africano deveria ter mais de 18 anos, falar corretamente o português, exercer profissão que tornasse sua família autossuficiente e ter cumprido com as obrigações militares; mas, embora teoricamente aberto a todos, o indigenato não mostrou bons resultados e, em 1950, 15 anos após, Angola havia assimilado, apenas, 0,75% da população local.

Neste mesmo período, a luta contra o domínio português começou a tomar corpo: funda-se o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em Luanda e, em 1956, surge a UPA (União das Populações de Angola).

O indigenato foi abolido no início de 1960; a luta armada teve início em fevereiro do ano seguinte, quando o MPLA desencadeou grande ataque contra edifícios do Governo e da polícia em Luanda.

Em 1966 foi fundada uma terceira organização: a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), comandada por Jonas Savimbi.

O MPLA, chefiado por Agostinho Neto, foi o mais importante dos movimentos, assumindo, então, a liderança da guerrilha no país: a partir de 1968, passou a controlar região sempre maior do distrito angolano de Moxico, fronteira com o então Zaire, atual República Democrática do Congo.

Em 11 de novembro de 1975, Angola consegue a independência; porém, enfrenta a ausência quase absoluta de quadros técnicos de base, médio e superior, vez que a súbita fuga de colonos, tanto técnicos quanto pessoal burocrático e administrativo, em massa, ocorreu como consequência deste acontecimento.

A destruição causada pela guerra e a mudança, mal planejada, da economia fechada (nos moldes da ex-URSS), apoiada por Cuba, para a economia de mercado, jogaram o país em gravíssima crise social e econômica.

Quanto às artes, o processo cultural angolano efetivou-se historicamente segundo duas linhas: pela integração do homem português em terras angolanas, e pela integração do homem angolano à cultura portuguesa, constituindo-se, sobre elas, os suportes humanos e sociais desta cultura no momento atual.

Os primeiros resultados deste modelo na literatura remontam ao século XVII; mas, é em 1845 que surge a imprensa oficial, sendo que, somente a partir do final daquele século aparece a primeira geração de escritores angolanos, cuja continuidade é representada pelos atuais Luandino Vieira, Pepetela, Ana Paula Ribeiro Tavares, Agualusa, Isabel Ferreira, Uanhenga Xitu, Ondjaki, Mário Pinto de Andrade, entre outros.

Na música, Angola tanto influenciou a produção brasileira quanto se deixa influenciar por ela; por sua origem bantu, a música folclórica local tem considerável riqueza, com instrumentos de criação própria, tais como o chissanje, de palhetas metálicas, tipo de marimba formada por placas de madeira, constituindo um xilofone; há diversos outros.

Como influência brasileira, note-se que a audiência de novelas nacionais por lá pode ser considerada relativamente mais extensa que no Brasil, sendo que o maior mercado de Luanda, capital de Angola, recebe o sintomático nome de Roque Santeiro.

Referências

Silva, Alexandre Pereira da. O Brasil e os 40 anos do reconhecimento de Angola. Passagens. Revista internacional de História e Cultura Jurídica Rio de Janeiro:vol.8, nº3, setembro-dezembro,2016p.471-488.

Redinha, José. Etnias e cultura de Angola: Instituto de Investigação Científica de Angola p. 448 (1975) Angola: Actualidade Editora

Coelho, Virgílio. A classificação etnografia dos povos de Angola. 1ª parte. 05/09/2015. Open Journals Mulemba online; Revista Angola de Ciências Sociais


[i] Coordenadora da Câmara de Geografia do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira - NUCAB da Universidade de Sorocaba - UNISO

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